Em Caminho com o Ressuscitado!
Ao longo das nossas vidas fomos habituados a ouvir as primeiras palavras da Sagrada Escritura: "No princípio Deus criou os céus e a terra" e “Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança".
Mas as frases feitas ou doutrinas rotineiras têm o poder de nos deixar indiferentes ou mesmo desligados. Só experienciando as realidades que professamos nos convencemos e damos verdadeira consistência às nossas palavras.
A pandemia da Covid-19 colocou, de forma brutal, esta realidade diante de nós: não somos donos da nossa própria existência nem dos outros. Tudo nos é dado, e com a mesma facilidade que recebemos também nos é tirado. Dependemos sempre de um outro. Jesus Cristo fez destas realidades o seu ponto forte, quando nos diz: “Eu não vim de mim mesmo, mas do Pai que me enviou para fazer a Sua vontade”.
Na Santa Noite da Páscoa somos convidados a identificarmo-nos com o nosso grande pai Abraão que foi submetido a uma desmesurada prova de fé. É preciso entender que a nossa própria existência é uma prova a superar diariamente, para podermos aderir de forma livre e com a pobreza e humildade necessárias, a um projeto, que não foi feito por nós, mas que somos chamados a reconhecer e aceitar. O sim de Abraão e o sim de Maria (FIAT), têm o seu cumprimento no sim de Jesus na véspera da Sua Paixão quando ora ao Pai: “Pai se possível afasta de mim este cálice, no entanto faça-se a Tua vontade e não a minha”. A adesão a este projeto do Pai, converte a prova difícil a que se submeteu numa fonte de bênçãos para todos.
Precisamos de nos libertar das muitas formas de submissão e escravidão a que nos submetemos ou que os outros procuram infligir em nós. Que ressoe em nós o convite de Deus a Moisés para que não interrompa o caminho para a libertação do povo de Israel, em que Deus os salvou das mãos dos egípcios.
Devemos aproveitar cada oportunidade, mesmo que inesperada, para nos libertarmos dos velhos hábitos e rotinas. Mas não nos devemos deter apenas em varrer com padrões e estereótipos estabelecidos, mas rasgar novos e reais horizontes que nos abrem a um conhecimento mais profundo de nós mesmos e das nossas ações concretas no dia-a-dia.
O testemunho de São Paulo deve pautar o nosso próprio testemunho! Quando ele afirma: “Se nós morremos com Cristo, acreditamos que também viveremos com Ele. Sabemos que Cristo, por ter passado da morte à vida, já não morrerá. A morte nunca mais terá poder sobre Ele. Pela Sua morte, Cristo morreu para o pecado duma vez para sempre e a vida nova que recebeu é vida para Deus. Do mesmo modo, considerem-se também como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em união com Cristo Jesus.”
Celebramos a Páscoa de Jesus mas também a nossa própria Páscoa. Estejamos prontos para assumir aos ombros a missão e a responsabilidade de reconstruir a vida comum e das nossas comunidades, da nossa região, do nosso país e do mundo inteiro, colaborando com toda a humanidade que vimos, e vemos, empenhados no cuidado e amor pela vida e pelo bem de todos.
A todos vós desejo uma Santa Páscoa.
Pe. Paulo Domingues
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